NATUREZA MORTA
CONSERVAS HOMEOPATIA
MAC – CAMPINAS
Museu de Arte Contemporânea “José Pancetti”
1986
RELENDO MORANDI
GALERIA UNICAMP
1997
Fúlvia estabelece um diálogo com Morandi, se apropia dos objetos, da idéia de repetição e da reflexão sobre a perspectiva do artista italiana. Discuti o espaço tridimensional do quadro, usando objetos do cotidiano com poucos signos da perspectiva; como em Morandi, ela é apenas sugerida. Os objetos são simples: garrafas, potes, jarras, frutas e fruteiras, representados com economia de detalhes.
A artista, em vez de usar a tradicional tinta óelo, escolhe a aquarela e a colagem, pois a primeira esteve muito ligada, como a perspectiva, à Arte do Renascimento. Morandi misturou a tinta para conseguir cores claras. Fúlvia usou a transparência para conseguir tonalidades. O volume ora é dado pela linha oura pela sombra.
O artista é interpretado por Fúlvia, no fim do século XX, num suporte de papel com a aquarela e colagem e com cores vibrantes. Ela coloca muita luz e alegria nos objetos representados. Na cor, a artista acha uma relação de oposição a Morandi, trabalha com cores vibrantes e puras, ao contrário das cores do interpretado. É uma interpretação de Morandi com luz tropical.
É uma meta linguagem da arte falando do espaço tridimensional ilusório criado pela perspectiva, tentando anulá-la, deixando dela resíduos mínimos, problemas já estudados por Morandi. O artista é quase somente um pretexto para sintetizar a longa experiência com a cor e a composição de Fúlvia.
DAICI CERIBELLI ANTUNES DE FREITAS
Dra. em Artes Plásticas pela USP
Ao lançar sobre o papel o contorno preciso de alguns objetos, FÚLVIA GONÇALVES os arranca, no mesmo gesto, descravidão da representação. Eis porque esta série de aquarelas nos evoca imediatamente Morandi, com o qual estão em relação de tenso diálogo. Eis porque estes signos nos lembram imediatamente o fragmento de Parmênides citado por Simplício:
e sua utensilidade; e seus frascos, frutas e fruteiras, escapando à contingência do existir e à usura do tempo, apresentam-se diante de nós na pureza do ser. São formas arquetípicas, a idéia mesma de objetos e coisas. É por isso, talvez, que paira sobre estas imagens uma espécie de nostalgia da linha e da cor libertadas da
Só ainda o mito de uma via
resta, que é; sobres esta indícios existem,
bem muitos, de que ingênito sendo e também perecível, pois é todo inteiro, inabalável, sem fim;
nem mais era nem será, pois é agora todo junto,
uno, contínuo;
pois que geração procuraria neles?
É esta via que as imagens de FÚLVIA GONÇALVES nos abre: o ser.
JOAQUIM BRASIL FONTES
Minha aproximação com a obra do artista italiano Giorgio Morandi, surgiu do silêncio e do meu grande isolamento.
Mudanças resultantes do falecimento dos meus Pais, minha aposentadoria – IA – Unicamp, e problemas relacionados à minha saúde, levaram-me a deixar meu atelier na Avenida Barão de Itapura e com minha irmã, mudamos para um apartamento na Av. Benjamin Constant – Cambuí.
Aqui ocupo um espaço relativamente pequeno. Os trabalhos que realizo na prancheta, são na maioria das vezes de uma proporção menor e geralmente desenhos sobre papel Arches.
Naquele momento as referências foram, não somente a meditação sobre o espaço figurativo de Morandi, esse grande pintor do século XX, e também a sua linguagem absolutamente pessoal, em sua trajetória notável e singular.
Afastando-se da Arte Metafísica, em seu atelier em Bolonha, trabalhou uma série de composições incluindo nelas sempre os mesmo objetos: aqueles que estavam à sua volta.
A partir deste diálogo com suas obras e a grande mostra – pinturas e gravuras – apresentadas no MASP – SP.Paulo, reforcei meus estudos sobre o artista, surgindo daí a fase “Relendo Morandi”.
Fúlvia
Obs – as fases seguintes daí derivam.
SESC – RIBEIRÃO PRETO
INTERPRETANDO MORANDI
1998
TERRITÓRIOS DA MEMÓRIA
MAC – CAMPINAS
Museu de Arte Contemporânea “José Pancetti”
2004
FÚLVIA GONÇALVES
SEMENTES – Entranhas da vida vegetal – técnica mista – 1985
A artista apresenta-nos um exemplo de uma série que explora campos aparentemente opostos, mas que preenchem a antiga premissa de que não há vida sem a morte.
Os personagens de suas telas – figuras humanas a objetos tratados quase graficamente – ocupam cenários soturnos sempre parecendo incomunicáveis, submersos em amplas áreas de cor e simultaneamente submetidos a planos claustrofóbicos.
Gonçalves explora esse espaço com uma maestria ímpar. Seu objetivo, antes de visar a redenção da semente ou sua simbologia, antecipa-nos o ambiente da vida: o lugar dos conflitos por natureza. Suas formas são carregadas de lirismo e, paradoxalmente, são críticas da existência. A artista nos dá uma excelente visão do mundo das tormentas sem abrir mão do equilíbrio.
Talvez por isso a dor e a angústia do Ser fiquem tão terrivelmente agradáveis. E como é agradável portar-se diante das obras dessa artista que domina sua expressão a ponto de permitir-se uma estética cujas consequências é relaxar o observador e deixa-lo à vontade para perceber a obra em sua especificidade, tomando consciência das relações que com ela desenvolve. O domínio da artista sobre a matéria da obra responde, em grande parte, pelas sensações de agradabilidade e liberdade, permitidas ao observador, infrequentemente na arte contemporânea.
Para SEMENTES de Fúlvia Gonçalves indicamos:
Concerto para violoncelo em Mi Maior op 85 de Edward Elgar (1857-1934) especialmente 2º movimento – Lento – allegro molto.
A arte aqui transita entre a possibilidade gráfica-narrativa do universo de Morandi e os efeitos das cores compactas do expressionismo. Fúlvia exercita essa manobra de modo a ressaltar as linhas mestras de sua delicada técnica, sem, contudo, perder-se na exaltação do modernismo. O estilo da narrativa não é neutro, nunca é. Suas personagens, histórias, locais e situações dramáticas não são executadas apenas em termos de conteúdo. Sua linguagem constrói alianças entre as fobias e a beleza. Em suas obras, as coisas se movem agilmente. O sentido das formas dissolve-se diante da tração das imagens. A dor individual se mistura numa espécie de mal estar da civilização, que a justifica ao espelhar essa dor no sofrimento de multidões ou no de todo dos artistas que de algum modo esconderam a dor de existir. Não há uma mente desintegrando-se mas uma desordem geral, sem um protagonista definido.
Emerson Dionísio – jornalista, historiador e crítico de arte
DOSSIÊ
GALERIA UNICAMP
2005
PROCEDIMENTOS E CONFRONTOS
CAFÉ E ARTE
2011
AS FIGURAS QUE AQUI SURGEM, SÃO MEROS ELEMENTOS COMPOSICIONAIS. TRABALHO COM ELAS NO ISOLAMENTO, A PARTIR DE RESULTADOS QUE POVOARAM OUTROS PROCEDIMENTOS QUE VIERAM DA FASE “TERRITÓRIOS DA MEMÓRIA”.
COM TRAÇOS E PINCELADAS EM AQUARELA, EMERGEM TAIS FORMAS QUE SÃO AGORA RECOMPOSTAS POR FOTOS, RECORTES, COALGENS, DOS QUAIS ME SIRVO PARA OBTER A DIMENSÃO QUE QUERO, ATRAVÉS DA REPRODUÇÃO DIGITAL, QUE OFERECE MEIOS INFINDÁVEIS.
ESTE TRAJETO É UMA RELAÇÃO ENTRE ESPAÇO E TEMPO QUE SE MANTÊM AO LONGO DE UMA AMPLA JORNADA.
O MAIS, PEÇO EMPRESTADO ÀS PALAVRAS DO POETA: “NÃ OFAÇO VERSO POR VAIDADE LITERÁRIA. FAÇO-OS PELA MESMA RAZÃO POR QUÊ O PINHEIRO PRODUZ RESINA, A PEREIRA PERAS, E A MACIEIRA MAÇÃS.
SIMPLES FATALIDADE ORGÂNICA”.
FÚLVIA
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