IL DIRITTO DITUTTO OSARI

HISTÓRIA DA OBRA

4 RIBEIROPRETANOS OU O DIREITO DE TUDO OUSAR

DIÁRIO DA MANHÃ
Ribeirão Preto, Domingo, 25 de Agosto de 1974


 

4 ribeiropretanos ou o direito de tudo ousar

Os artistas aqui reunidos cruzaram seus caminhos e fizeram de Ribeirão Preto o ponto de encontro. O céu, a água, os homens, a calma vida da província, a possibilidade de concentrar-se ao ato criador, de um lado e as correntezas e torvelinhos da vida aos poucos os depositaram nas beiras, do pequeno e obscuro ribeiro, conhecido pela qualidade do café que suas terras produziam, e próspero pela lavoura e beneficiamento da cana de açúcar, atualmente.

A riqueza da terra roxa, como em outras épocas, a terra gorda e preta de Bruxelas e de Milão, transformaram estas cidades em centros comerciais, tornou próspero o comércio da cidade agrícola e lentamente nela se concentraram várias atividades cujo fim era prestar serviços.

A escola de Artes Plásticas serviu como imã para estes artistas tão afastados da lavoura, transformaram-se numa cunha consciente da Noosfera na Bisfera.

Informação e renovação chegam hoje nas mais afastadas glebas do Universo e as modalidades expressivas são consequências de uma escolha livre, de uma escolha que pauta toda atividade do home no séculoXX, mas que surgiu no mundo da arte e é a essência recôndida das manifestações criadoras deste período. Esta escolha está baseada na lúcida conquista de Gauguin que estabelece o direito de tudo ousar, antecedendo e sintetizando nossa época,

Tomaram, porém, as ousadias uma direção. A direção dos grandes centros, dos países mais evoluídos, da renovação constante, lançando mão dos últimos recursos da tecnologia, deturparam e elegeram, para norma, sua abertura. As investidas no mundo periférico de expedições, rápidas incursões para colher materiais destinados a futura elaboração.

Os artistas que agora expõem obras tomaram para si o direito de tudo ousar de maneira diferente.

Primeira ousadia é morar e criar numa pequena cidade de província, onde não nasceram, para a qual se transferiram passando por caminhos diferentes.

Segunda ousadia é criar mansamente desenvolvendo seu ritmo com absoluta desenvoltura respondendo tanto aos amplos espaços vazios que podem contemplar, quanto ao bombardeio das novidades do delírio tecnológico.

Terceira ousadia é apresentarem seus trabalhos em Milão, e a ousadia não consiste na escolha da cidade mas no fato que as peculiaridades regionais, o exótico e o pitoresco são deixados de lado para mostrar opções individuais cuja força está na individualidade, e não no exótico, nem no extravagante, nem em invenções recentes potenciadas por complicados recursos tecnólogos, trata-se de quatro mundos intactos cuja única ligação é Ribeirão Preto, o umbigo comum. Entretanto a peregrinação que os fez parar no mesmo lugar revela um inconformismo profundo que não recorre aos extremos para encontrar sua expressão. É apenas nestes amplos contornos que surgem as personalidades de Francisco Amêndola,

Leonello Berti, Fúlvia Gonçalves e Bassano Vaccarini.

Única constante presente nos quatro é a reunião de elementos desencontrados ou diferentes, tratados por técnicas heterogêneas.

A fotografia e seus inúmeros recursos entrosam-se com a pintura na obra de Amêndola, enquanto a pintura é realçada pela talha em madeira por Berti e Fúlvia reúne no mundo da metáfora órgãos humanos sem leis anatômicas, enquanto Vaccarini com sobreas irrelevantes da rotina diária formula esculturas de ritmo delicado. Dir-se-ia que as técnicas usadas por estes artistas, tanto quanto sua expressividade estão baseadas como seus autores, na aproximação de coisas e seres distantes e diferentes.

Francisco Amêndola elabora imagens complexas e carregadas, resultado de um depósito sedimentário de elementos formais e de técnicos. A junção, a cata e a elaboração resultam em soluções contraditórias onde ora predomina a sínteses apurada e ora o emaranhado angustiado de cópulas anômalas. Há sempre um deslizamento de limites que funde a requintada elaboração fotográfica com a pintura, assim como a representação do mundo sensorial com projeções

Oníricas. Tormento e contemplação alternando-se procuram ampliar o mundo angustiado do artista cujo maior tormento reside nas insuperáveis limitações de nossa condição: a natureza humana.

Leonello Berti persegue a tal maneira a realidade concreta das emoções humanas, focalizadas no desespero dos esquecidos e na indiferença dos bem sucedidos, que o plano bidimensional tornara-se insuficiente e à procura de âmbito maior e mais real elevou em talha as figuras torturadas de suas personagens. Ao plano liso substituiu como suporte a madeira esculpida sobre a qual as cores acentuam a constante tortura de uma infinita revolta cuja direção é toda formal. Os limites tradicionais são exorbitados tanto no plano de fundo com relevo, como nos limites retos do quadro. O espaço metafórico e lacerado para penetrar no real. Neste caminho que outros palmilharam como Fontana, por exemplo, ele não recorre à abstração, nem à conglomeração de elementos eliminados pelo consumo, para obeter a evasão-penetração, mas elabora seus próprios elementos metafóricos antes de serem incorporados na obra final. Não é associação a criar a forma expressiva mas ela é elaborada em partes para depois ser reunida. As intenções particulares acabam se fundindo na grande vocação realista, acentuada até na deformação.

Em Fúlvia Gonçalves a figura humana completa ou fragmentada em vários órgãos domina o cenário. A figura humana ao lado de elementos humanos, a representação de uma e dos outros em escala diferente, a exaltação de outra, os mesmos elementos focalizados de pontos diferentes transformam a humanidade num desfile mágico visto de um carrocel e de uma gangorra ao mesmo tempo. Não um quandro mas a sequência de suas obras introduzem tempo e movimento no fruidor. Este tempo, este movimento são mágicos, porém, e nos afastam e enfiam nas entranhas das personagens focalizadas revivendo a cada instante as aventuras de Guliver, nos transferindo dos gigantes para Liliput.

A sala de anatomia ora nos mostra um olho enorme como um globo, ora uma barriga que envolve seu dono, mais adiante de um crânio cortado saem outros crânios e das seções praticadas nos seres em lugar de sangue, aparece um jogo de bonecas russas, brinquedo inesperado, salvando à beira do colapso. A repetição parece a coexistência geradora de repulsos e atração que marca e desgasta mas, nos mantém vivos.

Bassano Vaccarini apresenta amadurecida lírica do cavalariano, do paraquedista, do partígiano que superou os contrates polêmicos para elevar-se à compreensão sublime onde os aparentes opostos são identificados como distintos. Seu céu é feito de nuvens de serragem, de utilitárias peças gastas onde os pássaros tem asas compostas de alavancas, dalilográficas e as engrenagens cansadas imobilizam estas estruturas inúteis, gaiolas-puleiros.

O metal das armas, da luta, do trabalho, do uso abre suas asas para a revoada final da transcendência criadora equilibrada entre o volume da estrutura e o nado do espaço vazio. Consistência plástica que se completa superando o contraste entre sua densidade material e o evanescente da atmosfera com a qual se entrecruza.

O risco do tempo alterando o espaço reúne e separa, assim ontem, amanhã.

OBRAS DE FÚLVIA – ESCOLHIDAS PARA A MOSTRA NA GALERIA EM MILÃO – ITÁLIA

A SALA DE ANATOMIA

PRÊMIO PRESENCE – Rasegna Internationale di Pictura – Sala das Colunas do Museu da Ciência e Técnica Leonardo da Vinci – Milão/Itália

PRÊMIO LARIO CADAORAGO COMO – Artistas da região da Lombardia – Itália

Atualmente consta do Acerco do MARP – Museu de Arte de Riberião Preto – SP